sexta-feira, 8 de outubro de 2010

voar

De minha casa, eu vejo os aviões. Tantas e tantas vezes, mal ponho um pé fora da porta, os ouço lá em cima, a sobrevoar o céu, transportando dezenas de estranhos a quem não imagino sequer a cara. Pergunto-me quem serão essas pessoas que passeiam por entre as nuvens e desejo, todas as vezes, que uma delas fosses tu. Pergunto-me se algum dia ou – numa versão mais optimista e sonhadora de mim - quando serás tu que te encontras ali sentado no céu, num banco de avião que sobrevoa a minha casa, onde, ansiosamente, te espero ver entrar. Pergunto-me quando, também nós, voaremos de novo, como as tantas (e, na verdade, tão poucas, por muitas que pareçam) outras vezes em que me fizeste voar, rasgar as nuvens, rasgar o céu
Não acreditarias se eu te dissesse quanto tempo, tal como um avião, também eu me perco no céu e voo… O meu destino, esse é sempre o mesmo, mas, por mais estranho que me soe, eu não me canso deste trajecto sempre igual. Vou e volto a toda a hora, mais rápida do que um foguetão, mais frágil do que um avião de papel.
Em cada viagem, trago-te comigo, para podermos os dois ficar sozinhos por uns instantes. No entanto, quando te levo de volta, é como se deixasse cair o meu coração a mais de 10 000 metros de altitude. Olho para ele, em queda livre em direcção à terra, prestes a sofrer o impacto que, aos pouquinhos, o devasta. Porque eu te deixei aí. Porque tu não estás senão na minha mente, nos meus voos imaginários...

Porque tu não estás aqui, e eu queria que estivesses.



“e que eu morra aqui se um dia eu não te levo a Itália, nem que eu leve a Itália até ti…” :)